
Voltei à faculdade, como se estivesse encarando um fantasma, aqueles que eu mal olhava o semblante no início do semestre e era extremamente indiferente, foram os mesmos que me ajudaram no momento em que mais precisei. O companheirismo e a fidelidade de Bárbara me fizeram sentir, repulsa e alívio simultaneamente, talvez seja pelo fato de finalmente encontrar alguém que fosse capaz de me compreender em tão pouco tempo e de me aceitar como realmente sou. Este comportamento me fez retroagir por um tempo e criar coragem para seguir adiante.
- Monique, como seu aniversário está perto, o que você acha de passar ele em Juazeiro? – Perguntou-me Bárbara sorridente e esperançosa para uma resposta afirmativa.
- Não sei, não. - respondi sem entender ao certo o que aquela pergunta queria dizer ou até mesmo se faria sentido viajar para um lugar desconhecido, pelo menos para mim, e o fato de me distanciar das pessoas que eu amava me fazia sentir um certo enjôo.
- Vamos, vai ser massa, e a gente precisa fazer a sua iniciação! – Iniciação? – perguntei, mas com medo da resposta, por um breve momento pensei que iria fazer parte de alguma seita e que estaria indo para algum lado, não poderia prever qual.
- Meu Deus, Você nunca ouviu falar em iniciação? Quando alguém fica solteiro, para comemorarmos a liberdade da pessoa fazemos uma iniciação na vida. É como se fosse uma espécie de ritual de passagem, desta vez, para uma vida sem compromisso e responsabilidades secundárias. – Respondeu entusiasmada.
Outubro era o meu mês preferido, afinal é o meu aniversário e não é todo dia que as pessoas completam dezoito anos. Dessa vez eu tinha que ser ousada e teria que abusar, inovar, fazer diferente, afinal, era a idade que mudaria a minha vida, dezoito anos, não são dezoito dias, eu estaria totalmente responsável por minhas ações, segundo o código civil de 2002. Então porque não arriscar? O que estaria perdendo? – Vamos sim! – Disse, sem arrependimento posterior.
Juazeiro, a princípio me parecia uma cidade monótona e pacata, assim como qualquer interior. Engano meu. Assim que desci do ônibus, a mãe de Bárbara estava nos esperando para receber-nos de braços abertos. Cumprimentamos-nos e fomos diretamente para o bar em que seu pai trabalha, um bar como qualquer outro de cidade de interior, não muito luxuoso, porém com aquele aspecto familiar que faz a diferença. A cidade em si é muito arborizada, conheci o rio São Francisco que divide Juazeiro de Petrolina, e no tocante às pessoas não deixam a desejar, todos eles são muito calorosos e receptivos, me senti em casa. Jamais imaginei em toda minha vida que ficaria em um lugar por um determinado tempo e não sentiria falta da minha casa, de meus pais e do meu cachorro Scooby, Ah Scooby, de repente senti uma nostalgia.
O dia tão esperado finalmente chegou e eu acordei, numa manhã de sol quente (clima típico de Juazeiro). Nos reunimos para tomar café, após isso, ficamos aproveitando o restante do tempo na Sky, o que não é de se estranhar se tratando da minha pessoa. Seriado sempre foi o meu ponto fraco, não precisa me conhecer de longa data para saber o quanto eu me sinto bem ficando doze horas ou mais na frente de um computador, assistindo às mais variadas séries, sobre os mais variados temas. ( não é a toa o título do Blog) Talvez essa compulsão seja devido às histórias dos protagonistas serem semelhantes à minha vida e eu tome como espelho o que eu malmente saberia digerir, ou, até mesmo seja pelo fato de eu criar um bloqueio entre minha realidade e o que eu realmente queria que acontecesse comigo, e só de pensar nisso, me sinto enojada.
Bárbara, percebendo então a minha fixação por seriados, resolveu tirar-me dali para podermos aproveitar esse sol maravilhoso de Juazeiro, então, fomos conhecer a cidade. Ela mostrou-me pontos turísticos extraordinários, mas honestamente tenho uma vaga lembrança desses acontecimentos. Não, não tenho perda de memória latente, apenas uma pífia lembrança do que realmente aconteceu.
“Os acontecimentos a seguir delatados foram comentários feitos por pessoas que presenciaram o momento.”.
Num certo bar, localizado na orla de Juazeiro, resolvemos comemorar o meu aniversário de dezoito anos.
- Monique? – Era a voz de Binha me chamando pra realidade, eu estava em transe, pensativa, tentando compreender onde eu estava e porque eu estava ali, até então essa idéia de viajar me pareceu absurda, mas como disse antes, sem arrependimentos, afinal o que tem que ser, será – Quero que conheça meus amigos Deko, Adelmo, meu primo Eric e minhas primas Manu e Tana. – Corei um pouco, encabulada, mas não o suficiente para ser notada por ninguém além de mim mesma.
Sentamos próximo a um banco em frente ao bar. Se existem momentos na vida em que você irá parar pra pensar e estar convicta de que “Foi ali que tudo mudou!”, certamente esse era o meu momento, pois a partir desse dia eu já era outra pessoa. Não sentia nada, nem medo, nem ansiedade, tampouco nostalgia, apenas queria viver intensamente o presente e aproveitar cada momento com os novos amigos.
O ambiente estava tranqüilo para um bar, até que Eu (segundo depoimento de algumas pessoas) após ter ingerido umas seguidas doses misturadas de Vodca ( Orloff – penta destilada) , Cerveja e uma mistura inóspita ,na qual eu não me recordo, tampouco os que ali estavam, resolvi mostrar a minha destreza na dança, ao escutar uma música que na época o tema ficou em primeiro lugar como a música mais tocada , por ai já se pode concluir o nível deplorável em que me encontrava.Seu título era Não vale mais chorar por ele, e com movimentos repetitivos, a empolgação tomou forma e se materializou sob a minha pessoa , então, em um súbito momento de felicidade provocada pelo álcool - se tem uma coisa em que o efeito do álcool é capaz de provocar, certamente é o estimulo social - ,levantei-me da cadeira , coloquei a mão esquerda na cabeça, a direita na cintura e realizei movimentos bruscos até o solo.Em um desses rápidos movimentos cai feito “jaca no chão” e a dança para essa música ficou conhecida em Juazeiro, acompanhada da seguinte frase : “Essa Monique é brincadeira rapaz? É nada!!!”
Com o passar das horas, resolvemos voltar para casa, para poder continuar a comemoração na boate, fomos embora a pé, pois ninguém tinha condições reais e até lógicas de dirigir, eu, muito menos, pois na época nem alcançava o pé na embreagem e considerando o meu estado psico-social, era muito mais prudente que eu fosse carregada. Não foi bem assim que aconteceu, o combinado era sair cedo, saímos de lá já de noite, ou seja, tomamos café-da-manhã, almoçamos , lanchamos e quase jantamos no mesmo bar. Eu, Eric e Binha, saímos abraçados para um não perder o outro de vista e conseqüentemente tropeçar na rua, era para pelo menos ser assim, até que após andar 300 metros ,Eric olha para Binha e diz : - Acho que está faltando alguma coisa!, Cadê aquela sua amiga Monique? – E de repente Binha olha para ele , com um ar de preocupada e subitamente olha para trás tentando entender o que realmente aconteceu,foi quando me encontrou, olhando para o chão, suplicando mentalmente por socorro, posterior uma topada em uma pedra aparentemente insignificante, porém com um estrago irreversível – Tô viva! Uma ajuda aqui seria muito humilde da sua parte – Respondi, toda dolorida, - Eles não sabiam onde enfiar a cara de tão desesperados que estavam, era sem dúvidas, a primeira vez que aquela pobre criatura havia ingerido álcool na vida em proporções exorbitantes, e não é de se estranhar que fora batizada em uma terra chamada Juazeiro da Bahia.
Chegamos na casa, e foi só o tempo para tomar um banho, comer alguma coisa e sair novamente para o Depósito ( Boate famosa em Juazeiro), esse era o ritual de quem já era acostumado com essa vida lá, más Binha tinha razão , fora a primeira vez na vida em que eu tinha bebido e tudo o que eu queria no momento era encontrar uma cama , descansar e dormir.E foi o que eu fiz.Acordei com uma baita dor de cabeça insuportável, parecia que não tinha dormido à dias. – Seja bem vinda, hoje você é uma de nós – Ouvi uma voz, aparentemente pensei está tendo alucinações, mas logo depois a voz foi tomando forma e eu reconheci , Era Binha, pedindo para eu me arrumar, pois iríamos para uma noitada em Juazeiro. Pensei comigo mesma, como aquele povo tinha tanta energia disponível para gastar em um só mísero dia?
Não consegui acompanhar o ritmo. Minha cabeça doía e ainda assim, tomei um banho, me arrumei, tomei Tylenol e saí para conhecer o tal Depósito. Afinal, o que conta é a coragem para seguir em frente. Chegando lá, conheci mais novos amigos de Binha, eu realmente parecia ser o centro das atenções, afinal eu era natural de Salvador e o povo daqui tem certa fama em qualquer lugar que vai, de ser sempre bem recebido.
Foi aí que conheci “McJua”. (in memorian) Ele era diferente dos outros meninos, fora alguém com quem realmente me identifiquei, não era amor, não era como eu me sentia quando estava conversando com “McDreamy”, – Depois falarei sobre ele – a sensação era outra, pode-se dizer prazerosa, tínhamos algumas semelhanças, isso me chocou. Mesmos cursos, mesmas idades e o fato de residir em Salvador contribuíram bastante. Entretanto o que mais me chamou atenção foi justamente o seu nome e o jeito como me olhava. Tão doce e gentil que me fez realmente sentir-se desejada. Até então não tinha percebido que havia um interesse mútuo, somente após ele pedir o meu telefone é que realmente identifiquei uma possibilidade real de uma conquista e certamente com êxito. Foi ai que percebi que estava interessada após muito tempo - afinal precisava superar Mcdreamy-. Sentamos todos na mesa e conversamos, esperando dar o tempo certo, ou seja, meia noite, para poder entrar e desfrutar da boate. Quando a hora finalmente chegou, todos entraram na boate para aproveitar a noite, pode-se dizer que ali tão subitamente eu e McJua nos beijamos pela primeira e única vez.Não é que o beijo tenha sido ruim, é que apenas ninguém substituiria o que eu sentia, por mais que tentasse procurar outros , era ele que vinha em minha mente - mas não, eu não podia pensar nele mais, ele estava namorando, teria que agüentar - .Todavia quando McJua foi embora, ainda sob influência do álcool, não conseguir mas recordar de nada, eu tinha vagas lembranças do momento em que passei aquela noite.
Acordei pela manhã deitada no banco do Depósito com a cabeça apoiada como se fosse travesseiro, - não muito confortável, porém não tinha do que reclamar, alguém realmente havia tomado conta de mim enquanto eu estava dormindo e eu teria que ser realmente grata por isso - no colo de um dos amigos de Bárbara e queixando-me de Cólica “das brabas” levantei-me e agradeci por passar a noite toda cuidando de mim. Eram sete horas da manhã quando chegamos em casa e fomos dormir.
Lamentavelmente chegou o dia da despedida e foi quando eu conheci uma pessoa mais idiota do que eu, não, não estava refletindo minha própria imagem no espelho, apenas conheci outro amigo de Bárbara. Este se chamava Riquinho. Ele não era rico, como jus ao apelido, e sim o seu nome era Carlos Enrique. Com ele percebi que em toda relação interpessoal, alguém sempre se dá mal, conquanto que essa pessoa não seja você. Se você está em uma maré de azar, é por que realmente não conheceu essa figura. Não existe pessoa no mundo com mais falta de sorte do que ele. Parece que tudo conspira contra a sua vontade e nada dá certo.
Despedimos-nos de algumas pessoas e voltamos para Salvador, aquele lugar definitivamente é abençoado e a experiência que passei foi única e incrível. Quando a vida lhe oferece um sonho muito além de todas as suas expectativas, é irracional se lamentar quando isso chega ao fim.
“Mesmo que o dia seja perfeito, sempre tem um fim.”
Todavia, algumas coisas não precisam mudar.
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